Jogo Responsável – O exercício do equilíbrio

Artigo de opinião do Dr. Pedro Hubert

Como psicólogo especialista em jogo patológico, o meu objetivo é e será sempre tratar os jogadores com problemas de jogo e ajudar na prevenção e implementação do jogo responsável. Contudo, também acredito na intervenção do estado a todos os níveis, desde que de forma equilibrada e justa.

Em situações excecionais fazem sentido medidas excecionais.  Em plena pandemia, num confinamento que obriga quase todos a estar online ainda mais tempo, em que ansiedade, depressão, alterações de humor, contacto constante com os familiares em casa, dificuldades económicas (ou antevisão destas), notícias negativas, etc. é fácil de prever um atrativo maior para apostar e para a possibilidade de aumento de intensidade de jogo. Nestes casos, a procura do jogo pode ser por alívio, evasão, para contrariar o tédio do isolamento, obter alguma excitação ou simplesmente para ganhar dinheiro.

Proibição, repressão, regulamentação excessiva. Funcionam?

Proibir a publicidade em determinados horários, reduzir ofertas promocionais, etc. faz sentido, mas porquê apostar apenas na repressão e/ou proibição? Talvez fizesse sentido explicar ainda mais o que é o jogo, quais os fatores de perigo acrescido, nesta fase excecional.

Age-se melhor quando se percebe o porquê das medidas.

Explicar que, apesar de tudo, apesar da pandemia e das restrições é melhor apostar em sites oficiais, regulados e com políticas de jogo responsável sérias em vez de ir tentar a sorte em sites ilegais, clandestinos onde não existe qualquer proteção ao jogador, antes pelo contrário. Ao diminuir a oferta num lado, não se estará a aumentar do outro lado? Podendo o outro lado ser verdadeiramente obscuro.

A regulação excessiva, tal como a proibição funciona mal…. Tal como a desregulamentação total!!

Não sabemos onde fica o equilíbrio.

Como alcançar o equilibrio com o Jogo Responsável

Temos que ler artigos científicos, ver a experiência e eficácia noutros países, recolher e analisar empiricamente os nossos dados, criar instrumentos para verificar a eficácia das medidas de jogo responsável, ouvir todas as partes envolvidas, criar objetivos claros e respetivas estratégias.

Sei, no entanto, que os jogadores recreativos devem saber que o jogo é uma atividade de lazer, que pode ser prejudicial a algumas pessoas em determinadas circunstâncias e que aqueles que chegam à fase de abuso ou dependência devem ter a possibilidade de ser avisados, reencaminhados e tratados.